Doulas, os anjos da guarda na hora do parto

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setembro 12, 2013 por revistapremissas

No Brasil, ocupação foi reconhecida este ano e já está disponível em hospitais públicos

A palavra não está no dicionário. De origem grega, “doula” significa serva. São mulheres que têm a tarefa de dar suporte emocional à gestante durante todo o trabalho de parto. Este acompanhamento inclui massagens, apoio emocional e orientações que garantem um parto natural mais ativo, rápido e menos doloroso.

A ocupação é milenar, mas no Brasil foi reconhecida somente este ano. Em países como os Estados Unidos, as doulas têm uma atuação muito forte, com reconhecimento profissional e conselho federal. No Brasil, a atividade está em fase de expansão – nos grandes centros, já existe inserção deste trabalho nos hospitais públicos. É o caso do hospital Sofia Feldman, em Belo Horizonte (MG), onde as doulas são contratadas pela instituição com o objetivo de auxiliar as mães no trabalho de parto.

A fisioterapeuta Ângela Rios atua como doula em Dourados há dez anos. Ela explica que a doula não precisa necessariamente ser profissional da área da saúde, já que não realiza nenhum procedimento técnico ou clínico. “O que ela precisa é ter conhecimento dos processos do trabalho de parto e técnicas para melhorar a dor, reduzindo o tempo de trabalho de parto e oferecendo segurança para a mulher”, explica ela.

Ângela Rios lidera um grupo que tem como objetivo orientar e apoiar as gestantes dispostas a não se render às cesarianas desnecessárias. O Grupo de Apoio ao Parto Humanizado (GAPH) é composto por doulas que atuam em equipe, sempre orientando as gestantes que desejam um parto natural. “A doula tem como função melhorar a experiência do parto humanizado e favorece que as mulheres sejam protagonistas do próprio parto”, defende.

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Ângela Rios atua como doula há 10 anos; em MS, são em torno de 15 doulas atuando em Dourados e Campo Grande

Amparo

A doula pode ser contratada pela gestante ainda durante a gravidez, para orientação. No momento do parto, pode auxiliar através de massagens, exercícios com bolas, banho quente, orientações de respiração e principalmente apoio psicológico. A doula dá segurança à gestante, ajuda na escolha da melhor posição e explica passo a passo tudo o que está ocorrendo com o corpo da mulher.

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Nathalie teve parto natural sem anestesia, graças ao auxílio de uma doula; o marido acompanhou o parto

A biomédica Nathalie Gaebler Vasconcelos, de 28 anos, contou com o apoio de uma doula no parto de seu primeiro filho, Caio, que nasceu no Hospital Universitário da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) no dia 24 de novembro do ano passado. Foi lá, atuando como funcionária, que ela conheceu este trabalho desenvolvido por algumas colegas. “Sempre quis um parto o mais natural possível e encontrei este apoio na doula”, conta ela.

Natalie conta que teve todo o apoio inicial em casa e que o trabalho da doula favoreceu a descida do bebê e um parto mais rápido e menos doloroso. “Ter o suporte de um profissional, com experiência, fez toda a diferença. Tive um parto natural sem anestesia, mas não sei se teria ido até o final sem este apoio emocional”, diz ela. Caio nasceu saudável e forte, com 3.800 gramas e 51 centímetros.

A brasileira Tamy Bucchino, de 35 anos, também tem uma boa experiência para contar sobre o trabalho de parto. A diferença é que tudo aconteceu nos Estados Unidos, onde ela mora há seis anos e onde a realidade sobre o incentivo ao parto natural também é bastante diferente do Brasil.

Ela conta que conheceu a doula na primeira visita ao hospital, momento em que também soube que poderia optar por uma enfermeira obstetra em vez de um médico obstetra, como convencional. “Durante toda a gravidez, fui acompanhada por uma enfermeira e por uma doula. Tive pouquíssimas intervenções médicas e conto nos dedos quantos exames de toques realizaram durante a gestação e o trabalho de parto”, diz ela. “Minha doula foi indispensável para me mostrar que tudo o que eu estava passando poderia ter uma visão mais natural”, acrescenta.

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Tamy diz que várias amigas nos EUA contaram com auxílio de doulas na gestação; todas tiveram parto normal

Por conta de alguns problemas com a saúde do bebê, Tamy teve um parto prematuro, mas sem complicações. “Hoje, com todo o poder que o meu parto me deu, eu posso dizer que quem manda nessa hora é a mulher. Se eu não soubesse como fazer, seu eu não tivesse recebido todo o apoio e respeito que eu precisava naquela hora talvez não tivesse conseguido e, provavelmente, meu parto teria evoluído para uma cesariana sem dúvida. Eu precisei ser orientada sobre como usar as minhas contrações a favor do empurrar, de como usar aquele momento de dor a favor do nascimento do meu filho e isso nenhum médico ensina, somente a doula, com paciência e carinho.”

Entre a comunidade médica, a atuação das doulas divide opiniões, mas tem o apoio daqueles que defendem o parto natural. A médica ginecologista e obstetra Sissy Helena Zancanaro Carniel diz que através da doula a gestante conhece melhor o que acontece com o seu corpo, além de ficar mais tranquila para o parto. “Para as mães que pretendem ter parto normal, sem dúvidas é excelente”, afirma.

Ana Paula Amaral

*Originalmente publicada na 5ª edição da revista Premissas, de agosto de 2013.

2 pensamentos sobre “Doulas, os anjos da guarda na hora do parto

  1. Fantástico! Adorei a reportagem! Importantíssimo conscientizar todas as pessoas, afinal é uma nova vida que chega ao mundo e tem todo o direito de receber o melhor.

  2. Muito interessante a matéria,faço somente uma ressalva: as doulas da Maternidade Sofia Feldman (BH/MG) são voluntárias e não contratadas pela instituição.

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